Bares e restaurantes devem contratar 63 mil pessoas para a alta temporada de verão
De acordo com Paulo Solmucci, presidente nacional da Abrasel, essa recuperação já é vista pelos empresários do setor, o que faz a economia como um todo voltar a girar no país
A chegada da temporada de verão com menos restrições será de faturamento em níveis pré-pandêmicos e milhares de vagas de trabalho em bares e restaurantes brasileiros. É o que prevê a Abrasel, entidade representativa do setor, com base na mais recente pesquisa setorial da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
De acordo com o levantamento divulgado em meados de novembro, o setor deve abrir 63,4 mil vagas de trabalho temporário entre dezembro de 2021 e fevereiro de 2022. Será o equivalente a 77,5% das contratações previstas para o segmento de turismo e hospitalidade no Brasil.
Muito disso é por conta do avanço da vacinação contra a Covid-19 no país e, consequentemente, a flexibilização das medidas restritivas que incentivam as pessoas a voltarem às ruas e a viajar para aproveitar as festas de fim de ano.
Essa recuperação já é vista pelos empresários do setor, o que faz a economia como um todo voltar a girar no país de acordo com Paulo Solmucci, presidente nacional da Abrasel.
“Nós já estamos faturando neste segundo semestre 3% em termos reais sobre o mesmo período de 2019. Perdemos 1,2 milhão de empregos, mas já contratamos 600 mil, fruto do movimento que voltou”, explica.
Muitas destas contratações durante a temporada, segundo a CNC, serão de cozinheiros e auxiliares (8,09 mil) e de garçons e auxiliares (4,76 mil). Também são indicados os recepcionistas, que devem alcançar cerca de 14,5 mil novas vagas.
Maior qualificação
Ao Bom Gourmet Negócios, Paulo Solmucci disse ainda que as contratações são para suprir atividades que tiveram de ser cortadas para se economizar durante a pandemia, mas que agora voltam com uma qualificação maior. De acordo com ele, o setor está voltando à atividade muito mais produtivo do que antes.
“Onde antes trabalhavam 10 pessoas, hoje trabalham oito. Onde cinco trabalhavam, hoje são quatro. Todo mundo teve que investir um pouco em automação, revisão dos processos, as equipes encolheram e foram melhor qualificadas para trabalhar neste ambiente mais pressionado”, conta.
Esse ganho de produtividade permitiu voltar a contratar funcionários, mesmo que numa escala menor do que a quantidade de demitidos ao longo da pandemia. Mas, isso esbarra exatamente na qualificação dos trabalhadores.
Segundo outra pesquisa recente, da própria Abrasel, um em cada cinco estabelecimentos diz estar com dificuldade para contratar funcionários mais qualificados, como garçons, cozinheiros, gerentes e chefs.
Em entrevista em meados de outubro ao Bom Gourmet Negócios, Nelson Goulart Junior, presidente da Abrasel no Paraná, afirmou que teve dificuldade até mesmo para selecionar candidatos ao curso gratuito de qualificação profissional oferecido pela entidade.
A rotina de um restaurante, como trabalho até tarde da noite e nos fins de semana, é o principal motivo que afasta muitos dos candidatos a uma vaga, de acordo com ele. “Falta comprometimento”, completou.
Remuneração x qualificação
A questão do comprometimento é um dos motivos constatados também pela chef e empresária Juliana Fagundes, proprietária dos restaurantes Pimenta Brasserie e Donna Taça, em Curitiba. Ela conta que tem deixado de lado até mesmo a qualificação, e se oferecido para ajudar na capacitação dos funcionários.
Mas, mesmo assim, continua com vagas abertas e sem entender o que está acontecendo. Até mesmo as posições de maior especialização e remuneração, como sommelier, estão sem ocupação.
“As pessoas marcam a entrevista e não comparecem, perguntam coisas que bastaria pesquisar como ‘qual ônibus pegar’. Mesmo com plano de carreira, com benefícios, com treinamento para quem chega sem experiência, e ainda assim continua muito difícil contratar, e não é só nos meus restaurantes. Não consigo entender”, conta.
A questão da qualificação também esbarra na remuneração, que muitas vezes não atende às expectativas dos candidatos. Para muitos restaurantes, oferecer mais que a média do mercado para atrair funcionários esbarra nas planilhas do mês.
No restaurante Spot Urbano, de São Paulo, as contas ainda não fecham no azul, e o movimento também não alcançou a plenitude de antes da pandemia. Glauce Alonso, proprietária do negócio, afirma que já está conseguindo voltar a contratar de pouco em pouco, mas recuperação total só mesmo no ano que vem.
“Antes da pandemia, tínhamos uma equipe de 32 pessoas, e agora estamos com 15 funcionários. A intenção é voltar a ter a quantidade de antes e até mais. Contratamos até o momento sete funcionários e pretendemos contratar mais até o final deste ano”, conta Glauce Alonso, sócia do restaurante.
Para ela, as dívidas contraídas durante a pandemia só serão quitadas mesmo em 2022.
E a inflação?
A situação de Glauce é confirmada pela Abrasel, que estima que 35% dos estabelecimentos ainda trabalham no prejuízo, e 60% deles estão segurando os repasses de preços aos clientes.
“Tivemos uma inflação acumulada sobre os custos do setor na ordem de 35%, e repassamos apenas 15% – 5% no ano passado e 10% até o momento. Pode ser que tenha mais um pouco pro final do ano”, afirma Paulo Solmucci.
Esse represamento do repasse aos clientes só foi possível, de acordo com o dirigente, por conta do ganho de produtividade dos estabelecimentos. Mas, mesmo assim, com um prejuízo que adiou a recuperação total das finanças para 2023.
“É a gasolina que impacta a gente na entrega do delivery, aluguel com o IGP-M nas alturas (+16,77% no ano), inflação dos alimentos e energia elétrica. Estamos muito pressionados, o setor está fazendo mágica”, conclui.
Fonte: Gazeta do Povo