Foodtechs impulsionam inovação no setor gastronômico
Empresas que unem tecnologia e comida têm papel fundamental na construção de um mundo mais sustentável
A junção entre comida e tecnologia pode dar um caldo dos bons. O resultado disso são as foodtechs, empresas que usam e desenvolvem ideias inovadoras, com soluções na produção, distribuição e consumo quando o assunto é alimentação. Iniciativas como essa podem ter impacto direto na sociedade, resolvendo problemas mais urgentes e recorrentes na população mais pobre.
As foodtechs também surgem pautadas na sustentabilidade e no meio ambiente, dando origem à tecnologia que utiliza matérias-primas alternativas, com menos aditivos, alimentos produzidos em laboratórios, obtidos de fontes alternativas ou até com fontes alternativas de vitaminas. Esse processo beneficia o uso do solo, da água, do ar e, consequentemente, diminui o desperdício da produção de alimentos.
— O impacto na sociedade é amplo e total. Começa na relação com os produtores, na produção de alimentos em laboratório, na variedade de matérias-primas, na criação de novos produtos (alimentos e bebidas), na gestão dos processos, na tecnologia dos equipamentos utilizados, na eficiência na cozinha, na distribuição e termina no relacionamento com o cliente final — explica a chef Gisela Abrantes, que coordena o grupo de Pesquisa e Inovação na Cozinha do Senac RJ.
De acordo com Gisela, a inovação e a produção de conhecimento são, tradicionalmente, fundamentais para o setor da gastronomia.
— Desde sempre o ser humano buscou formas de conservar seu alimento e aumentar o tempo de vida útil dele. Isso é antigo, mas sempre contribuiu para os avanços da ciência e tecnologia que temos hoje. Todas as soluções que otimizam e inovam a maneira como nos relacionamos com os alimentos estão de mãos dadas com a tecnologia, seja no tipo de matéria-prima ou na forma como são produzidos e distribuídos — explica ela.
O time liderado pela chef desenvolveu, em 2019, em parceria com o Laboratório do Museu do Amanhã, uma impressora de alimentos 3D, com bases proteicas de algas e insetos. Gisela explica que esses seres vivos são considerados as principais fontes de proteína do futuro, por conta do alto índice que oferecem e da baixa pegada de carbono que geram na produção.
Outras criações do grupo foram embalagens comestíveis feitas com fibras biodegradáveis e um projeto de aproveitamento da pele do peixe para fins alimentícios. A chef, no entanto, chama atenção para a falta de apoio a iniciativas como essa.
— A pele do peixe é considerada um descarte, mas é nutricionalmente rica em proteínas, especialmente a do colágeno. Assim como as embalagens comestíveis são uma alternativa sustentável aos filmes plásticos e podem agregar uma camada de sabor ao alimento embalado. Mas a resistência cultural para o consumo desses produtos é enorme. Precisam ganhar mais adeptos e simpatizantes em um futuro próximo — afirma.
Fonte: O Globo